segunda-feira, 25 de abril de 2011

a feira

Só fui olhar pra trás dois passos e meio depois de ter falado oi. Foi o suficiente para perdê-la de vista. Burro! Cabelos descansados no ombro, olhos sonolentos, andar despreocupado, boca emoldurada, tamanho ideal. Mas a perdi de vista. Só um oi? Burro! E nesse domingo fui para casa como um dia qualquer, pensando se a veria de novo qualquer dia.

Acordei e, atento, virei a esquina para entrar na mesma rua, por volta do mesmo horário. Ah, que ótimo, uma feira. Bananas em promoção e pessoas negociando o quilo do tomate. Tudo isso banhado por um cheiro gostoso de verdura. Corpos andam e se esbarram. Gritos se misturam com cochichos, mas nada de cabelos descansados no ombro. Talvez no próximo dia.

Próximo dia e lá estava a feira de novo e a multidão ocupava cada centímetro dela. Respirei fundo e cruzei os dedos. Decidi ficar parado em algum ponto e contar com a sorte. Ao lado das castanhas, passaram castanhos, azuis, mas nem sinal dos olhos negros e sonolentos. Quem sabe no dia seguinte.

Dia seguinte e com a esperança em meio tanque entrei na feira novamente. Ali, to vendo! Não, essa não tem um andar despreocupado. Sentei na calçada, decepcionado. Com sorte, amanhã.

Hoje, sem surpresa, a feira estava lá, mas surpreendentemente vazia. Aquela boca com molduras feitas de dobras de bochechas não vai aparecer. Vou esperar o outro dia.
Outro dia e nada. A feira lá, ela não. Várias estavam, de diferentes tamanhos, mas não o ideal, ela não. Amanhã começa o final de semana.

Final de semana. O sol me acordou. Peguei um ônibus que cruzaria a rua da feira, mas, para meu espanto, nada de barracas. A rua estava deserta, com exceção de um vulto, uma pessoa que atravessava de uma calçada para a outra. Puxei a corda, desci do ônibus em movimento, parei na esquina e na oposta a avistei. Era ela. Cabelos, olhos, andar, boca, tamanho. Era ela. Oi, de novo.

Ela não foi à feira. Segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, nada, mas ela veio no final de semana, e no seguinte, e no seguinte...

Texto dedicado à minha namorada, que só vejo aos finais de semana, mas que em breve vou encontrar nas feiras também.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

meu vício

Ah, que saudades do meu mau humor. Que falta eu estava sentindo da minha ansiedade. Há quanto tempo eu não começava o dia na contagem regressiva, dia em que minha unha já está toda roída mesmo faltando horas para o jogo começar.

Agora começo a ser o Ricardo que dura até dezembro e só se torna outra pessoa durante pouco mais de um mês por ano. Começam a ser mais freqüentes as respostas monossilábicas e mais intensas as demonstrações de superstição. Loucura? Não sei se chegaria a tanto. Vício? Talvez. Mas como não ter crise de abstinência de uma paixão que pode ir da tristeza à alegria em apenas um minuto? Que droga tem efeito tão rápido?

A partir de hoje, tudo fica mais preto e branco. A partir de hoje, não tem mais lógica: você sofre para ganhar do pequeno, mas passeia no clássico. Voltarei a duvidar da vitória, mesmo aos 45 do segundo tempo. Mais uma vez terei que trocar de lugar na arquibancada quando o placar estiver adverso.

Que saudades de chamar os jogadores pelo apelido que só eu conheço. Que falta eu estava sentindo de achar que o perna de pau do time está com febre só porque está jogando bem.

É impossível explicar o quanto o Glorioso mexe comigo, mas todos os viciados como eu entendem essa paixão, cada um com os seus porcos, leões, raposas, etc. Viva o futebol!

Termino citando o mestre e grande botafoguense Armando Nogueira. Que viciado não gostaria de morrer assim?

"Vivi tristezas, vivo alegrias, tenho chorado, já cantei muito, às vezes rezo, vendo a bola correr, na grande área; nem mesmo os sentimentos mais subalternos da alma humana - nem deles a grande área do futebol me tem poupado o coração; já tremi de medo, já odiei, já invejei. A paixão pelo futebol tem me pesado a vida de tantas emoções que já não tenho mais o direito de lastimar se um dia a morte me queira surpreender no instante de um gol."