quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

reto toda vida

Interrompeu de vez sua busca. Preferiu ficar sentando esperando que motivos para sorrir caíssem sobre o seu colo. Apesar de ser ridículo, é mais fácil, concluiu. Por quê? Porque é muito fácil ser acomodado. É muito fácil aceitar o que tem, porque para isso basta continuar tendo. Ele não precisa mudar nada, não precisa tornar físico o medo da mudança. Mesmo que no fundo ele ache que pode dar alguma coisa ou, na pior das hipóteses, continuar a mesma merda. Não haverá perdas. A angústia e a tristeza não estão sendo suficientes para mudar o rumo da sua vida. Pensou alto: o que será então?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

máscara

Sai,
Encontra um ou outro,
Pede um copo e ri,
Brinda,
Chega mais um,
Conta,
Você não vem?
Lembra,
Estica as pernas,
Se diverte,
Combina,
Gargalha e volta,
Se olha no espelho,
Cai a máscara.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

um término

Já que você é tão prestativa, largue meus batimentos, meu sono e minhas dúvidas. Jogue tudo fora e contente-se em segurar o meu copo. Vou pegar mais gelo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

aos amigos

Da porta vem um silêncio que só eu ouço
Da janela um segredo que só eu guardo
Das fotos uma alegria que só eu espalho
Da TV uma imagem que só eu ignoro
Dos livros um reflexão que só eu absorvo
Do telefone uma saudade que só eu disfarço
Do chão um frio que só eu calço
Da música uma lembrança que só eu carrego

Só, não posso
Porque só estou sem vocês

paixão metafórica

Avistou a capa na prateleira cheia.
Pelo prefácio, passou os olhos rapidamente.
Tornou-se de bolso quando leu o primeiro capítulo.
Descobriu que ela se matava antes do próximo.
Era preciso recomeçar para salvar o fim.
O excesso de vírgulas a fez tropeçar,
E ela despencou no mar de letras.
Deixou na estante com medo de falhar.
Retomou a coragem e varou a madrugada.
As madrugadas.
Demorou a perceber a semelhança no roteiro.
E o óbvio a fez pular do alto do parágrafo.
Colocou a culpa na concentração.
Desconfiou das palavras.
Por pouco não o queimou com a faísca de ódio.
Respirou fundo.
Sem saber, leram para ele dormir,
Mas a penúltima página a soterrou.
Ao ter certeza da incerteza do futuro,
Ele o emprestou para o passado.
E o livro terminou sem final.
Somos um quebra-cabeças interminável de tudo o que aconteceu em nossas vidas até um segundo atrás.

seguindo o millôr

Só há duas condições psíquicas em que é aconselhável beber: quando se está deprimido ou para evitar a depressão. Se você está em dúvida, espere. Porque você pode acabar abrindo a bebida errada. Tá deprimido? Pega um 12 anos e nem pense em colocar gelo. Só coloca gelo quem está feliz. Cantarolar mexendo o gelo com o dedo para depois chupar o geladinho. Muito viado pro seu gosto. Agora, se você não está deprimido, só quer evitar que isso aconteça, abra a garrafa do lado. Aquela com chapéu em cima. Essa mesmo, a tequila. Que felicidade cortar o limão! Que felicidade colocar o sal na mão! Que felicidade rimar quando se está doidão! Saia de casa. Vá para a noite. Pede mais doses. Corta. Tudo preto. Abre o olho devagar pra claridade não incomodar muito. Onde você está? Na sua cama. Olha para o lado e tem uma baranga vestindo a camisa que você usou ontem de noite. É, abra o 12 anos. Mas não coloque gelo.